«Quando um escritor da dimensão de Alberto Pimenta lança livro novo, sobram motivos de júbilo não apenas para o meio literário português, ou para o lusófono, mas para todos os falantes da língua: pois ele, o autor, a amplia, a renova, quando renova a si mesmo. E é o que continua a fazer, depois de ter completado oitenta anos de vida, ao lançar o volume Pensar depois No caminho (Lisboa: Edições do Saguão, 2018).
Neste ano, foi lançado o genial filme de Edgar Pêra, “O Homem-Pykante – Diálogos com Alberto Pimenta” (em Portugal, em maio; no Brasil, foi exibido em outubro), que trata do performer, artista plástico, professor, escritor, todas essas atividades de Pimenta. Este livro não entrou no filme, mas ouso dizer que ainda ampliaria o retrato cinematográfico do autor, se tivesse havido tempo para tratar desta nova publicação.

Pensar depois começa com uma cosmogonia satírica, que parte dos deuses greco-romanos e do deus e do diabo cristãos. O tempo é algo mascado por deus, um chiclete

Chegam as transações mercantis, a moeda, depois o capitalismo e o uso dos combustíveis fósseis. Nesse momento, No caminho surge: "rumo a este mundo n ovo", com "o verbo f eito verba" e uma assembleia geral de acionistas, recheado de textos estatutários de sociedades anônimas. Ele é mais abertamente experimental do que o outro livro, em razão dos procedimentos de colagem e da espacialização dos versos e das palavras.
Os dois livros, separados ou juntos formando um terceiro, marcam-se, evidentemente, pelo anticapitalismo. Neste volume, o capital explodirá, mas não contaremos como.

Pádua Fernandes— O Palco e o Mundo